domingo, 8 de julho de 2012

DE VOLTA ÀS COISAS SIMPLES - Rossano Sobrinho

                                         Contato com o autor: rossanosobrinho@yahoo.com.br

Hoje, senti uma saudade imensa das coisas simples. Depois de algumas experiências vividas, somente as coisas essenciais passam a merecer a nossa atenção. As cascas caem com o tempo, e a gente passa a ver a vida sem os excessos... sem maquiagem.
            A civilização humana terá de fazer o caminho de volta às coisas simples, se não quiser sofrer mais e mais. Os sábios guias espirituais da Terra, em O Livro dos Espíritos, já nos disseram que, às vezes, é preciso que o mal chegue ao excesso, para que verifiquemos a necessidade do bem e das reformas. Penso que já chegamos a esse ponto de nossa caminha evolutiva.
            Ainda, hoje, pela manhã, disse à minha esposa que precisamos aprender a olhar as estrelas. Não olhar, apenas, mas percebê-las! É diferente. Precisamos ensinar nossos filhos a admirarem o silêncio, porque somente no silêncio o sagrado se revela por detrás das coisas pequenas.
            Nossas crianças estão cheias de coisas, de brinquedos, máquinas, jogos e botões... Mas se mostram inquietas, carentes de essências.
            O problema não é possuir as coisas. O problema é não perceber o que está por detrás das coisas. E quando não percebemos, precisamos de mais e mais coisas, que nunca nos preencherão.
            Lembrei-me, com minha esposa, de quando apenas namorávamos – ainda namoramos! -, quando os pais dela, sábado à noite, generosamente preparavam uma jantinha saborosa para nós. Peixe pescado pelo meu sogro, arroz, feijão... uma jarra de suco ou um refrigerante. E, ali, nós quatro celebrávamos a vida na plenitude da nossa simplicidade. Conversávamos, sorríamos, depois, eu e ela íamos ouvir música, namorar, ficar juntinhos em nosso quase silêncio, até esquecer do tempo, que, para os que amam, nunca existe, ou nunca deveria existir.
            Precisamos de voltar nossos olhos para as coisas simples, essenciais.
            Por que os jovens têm necessitado de tanta bebida e de tanta droga para parecerem felizes?! Porque em verdade não estão felizes. Não são felizes!
            Esses jovens não aprenderam a contemplar as essências quando eram crianças. Por isso, necessitam de “lentes alucinógenas” para perceberem um pouco da Vida escondida por trás da vidinha monótona e sem sentido.
            Muitos jovens não aprenderam a olhar... a ouvir... a sentir... E eles não têm muita culpa por isso. A verdade é que ninguém os ensinou a olhar,  a calar a boca da mente para enxergar o essencial. A ouvir estrelas, como disse Bilac.
            Eles podem ter frequentado boas escolas particulares, feito cursos de idiomas, e até conseguido passar bem colocados nos terríveis vestibulares das grandes federais. Mas, se não conseguiram aprender a ouvir a musicalidade dos ventos, ou contemplar a dança das andorinhas no céu, ou perceber a perfeição do infinito presente numa minúscula flor de jardim, prosseguirão seres profundamente pobres de vida e de alegria.
            Muitos de nossos jovens estão muito carentes, flutuando em nuvens densas de ciência e tecnologia... Em mundos virtuais, sem uma gota de realidade e beleza.
            Outro dia, minha filha de sete anos me perguntou o que eu gostaria que ela fosse quando crescesse. Eu disse: “Gente!” Ela riu e falou: “Não, pai. O que você quer que eu faça quando eu crescer? O meu trabalho, pai!!!” Eu falei: “Nada. Eu não tenho que querer nada! Você que tem que querer!” Ela, espanhola de alma que é, falou brava: “Ah não, pai. Assim não dá! Você não me entende!” E eu a socorri com ternura: “Meu bem, o que você gosta de fazer? Você gosta de dançar, não gosta? Então seja uma dançaria, ou uma professora de dança, se isso fizer você feliz...”
            Lembrei-me, também hoje, nessa reflexão sobre as coisas simples, de um querido tio que já retornou à vida das essências. Era um homem espetacular. Muitos acreditavam em nossa cidade que ele fosse ateu. Mas eu descobri, já no final de sua vida física, que ele era profundamente “religioso”, porque amava a vida; e quem ama a vida (a verdadeira, a vida das essências) ama a Deus, pois Deus é a Vida, e a Vida é Deus. Ele era um amante da boa música, da boa conversa, e da natureza. Essa era a sua santíssima trindade. Bem se vê que não carecia de outra, afinal, como diz o Novo Testamento, não se pode amar a Deus a quem não vemos, se não amarmos o próximo que conseguimos ver. Tampouco servir à vida, sem amá-la.
            Certa feita, esse homem singular me disse: “Rossano, onde entra o luxo, acaba o conforto”.
            Achei incomum a frase. Eu já visitei algumas casas tão luxuosas que não me permitiram relaxar... Era tanto luxo que fiquei com medo de pisar no tapete, sentar no sofá, tocar na mobília. Isso quando eu era mais jovem. Hoje, graças a Deus, eu conseguiria relaxar até dentro do Vaticano. O tempo é mesmo uma bênção, quando se aprende a perder as cascas do ego, os excessos da mente, os paramentos da alma... Foi por isso que Jesus asseverou: “Felizes os pobres de espírito!” Felizes os pobres de ego.
            Estamos necessitados na Terra. Necessitados de vida! Profundamente carentes em nossos excessos. Repito: O problema não é ter coisas, mas sermos possuídos, dominados, pelas coisas que pensamos possuir... O Ocidente está miserável em sua riqueza de tecnologias e ciências. Não proponho um retorno à primitividade, nem vivermos como a santa de Calcutá. Não é isso! Precisamos de ter as coisas sem deixarmos de “ser”. Como asseverou o Homem de Nazaré, “de que adiantará ao homem ganhar o mundo e perder a sua alma?”
            Exupéry também estava certo, “o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração”. E disse mais o autor de O Pequeno Príncipe, “o último degrau da sabedoria é a simplicidade”. Verdade inconteste!
            Voltemos, logo, enquanto há tempo, às coisas simples, para não perdermos a alma das coisas, e, junto com ela, a nossa alma, a nossa alegria.
           
           
           

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, pelas mensagens cristãs nele inseridas.

    Com toda razão, quando lembras do Divino Mestre a respeito dos tesouros que valem a pena serem conquistados, os imperecíveis da alma.

    Concordo com você quando diz que precisamos buscar a essência da vida, pois nela está a sabedoria do Criador, cuja simplicidade se apresenta no desabrochar de uma flor, que segue o seu destino de perfumar com amor (de Deus).

    Sucesso no trihar dessa jornada de colaborador de Jesus. Eu também faço palestras nas casas espíritas e tenho um programa (CONHEÇA O LIVRO DOS ESPÍRITOS) pela www.webradionovafraternidade.com.br.

    Estou aprendendo a colaborar, dentro do despertar de minha consciência, com o nosso Senhor.

    Meu e-mail para correspondência é alonsofilho2008@gmail.com

    Meu site é www.alonsofilhodaluz.com

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